quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ser comunista é, antes de tudo, um ato de amor ao povo

Aprendi ouvindo as pessoas, e participando de movimentos. A campanha das Diretas, Já, uma vontade democrática que moveu milhões ao final da ditadura. Antes dela, as lutas populares, o Movimento de Defesa da Amazônia, os comitê de apoio às greves dos metalúrgicos (por duas vezez fui preso por coletar alimentos), a reconstrução da UNE e o movimento estudantil, o Comitê Brasileiro pela Anistia, o Movimento Contra a Carestia e o ato na Praça da Sé, com bombas e invasão de cães na catedral. Atos públicos dissolvidos a cacetetes e bombas de gás lacrimogêneo. (…) E a “Tribuna da Luta Operária”. Fui “tribuneiro”, aprendi a falar em público vendendo o jornal na praça, na porta das fábricas nas escolas. Entre 1980 e 1982, cuidei da sucursal do jornal. Tempos difíceis. Fim da ditadura, ameaça a jornais alternativos, a bomba do Riocentro, atentados a bancas de jornais. Tempo de avanço e descobertas. Tantas lutas. Em uma delas fui sozinho cobrir uma greve na cidade de Salto. primeira greve em uma pequena cidade do interior, metalúrgicos parados, polícia na porta da fábrica, e um rapaz de cabelo comprido, barba rala e uma bolsa cheia de panfletos subversivos. Tão logo cheguei o delegado deu ordem de prisão. Fui algemado e ia ser jogado no camburão (um veículo Brasília, adaptado para a polícia). Não podia ser preso, quase ninguém sabia que eu tinha ido para aquela cidade e os panfletos, para a época, eram comprometedores. Comecei a discursar para os operários que estavam dentro da fábrica: palavras de ordem, brados contra a ditadura, pelos direitos do povo. Os policiais me agarravam pelos braços e pernas. Foi quando ouvi um grito em uníssono. Os operários derrubaram o portão, cercaram a viatura da polícia e fizaram o delegado recuar. Naquele dia fui David e sempre que me lembro acho engraçado, o delegado com voz trêmula: “Ele é agitador profissional, ele é agitador profissional”. Fui solto e passei o dia na fábrica negociando a pauta salarial com os patrões. (…) Passados 30 anos de militância e nestes mais de 5 anos com os Pontos de Cultura, visitando todos os cantos do Brasil, conhecendo gente criativa e generosa, que respeita o planeta, o país e seu povo, me redescubro em um ato de amor ao povo brasileiro e na convicção reforçada de comunista. Nós somos o que fazemos de nós e é o “antes” que nos faz ser o que somos.

do livro “Ponto de Cultura, o Brasil de baixo para cima”

Célio Turino



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